domingo, 9 de agosto de 2009

Olho para as teclas de um teclado.
Letras.
Q, W, E, R, T, Y, U, I, O, P.
A, S, D, F, G, H, J, K, L, Ç.
Z, X, C, V, B, N, M.
Letras numa ordem aparentemente aleatória, porém somente aparentemente.
Letras numa ordem estatisticamente estudada por datilógrafos renomados que ninguém conhece.
Assim é a poesia.
Na poesia, se passa o que se sente, mas não necessariamente se sente o que se passa, e apesar de parecer para um leitor que uma poesia é uma ordem aleatória de palavras que fluem por acaso, tal ordem é na verdade, geralmente pensada, mas sempre sentida.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ó Ipê Encantado

Quando te quero, ó ipê encantado
Me torno teu servo, solto e acorrentado
Livre nos bosques da tua floresta
Mas preso nos roncos da tua sesta

E quando ao sol da manhã tu acordas
Eu deito manhoso nas raízes em cordas
Tentando dormir, mas não consigo
Pois faço da tua imagem meu abrigo.

Roçando mi’as costas nos teus pés
Brincando co’a sorte, só vem revés
E em cada parte que te cortam
Os meus sentidos mais se exortam.

Como eu te quero, ó ipê encantado
Que canta em voz tênue às fadas da noite
Quanto mais te quero, mais estás cortado
E quando me entrego ao açoite, foi-te.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Agora...

Agora eu sou sozinho
Como as pombas que catam restos
Um pássaro expurgo do ninho
Um alvo de manifestos

Sou terra seca e queimada
Que espera um tempo para ser usada.
Sou livro cheio de ácaros
Eu sou o abutre dos pássaros!

Eu sou a neve que seca,
O cadáver que se disseca
Eu sou a foice estragada
Que não vive e nem mata mais nada

Eu sou as veias do campo
Que trabalham sem ninguém saber
Eu nasci como a fumaça
E como a fumaça eu vou morrer.

Um cigarro que é consumido
E em pouco tempo será descartado.
O enigma de um ruído abafado.
A incerteza de um brado emitido.

Agora eu sou a tristeza
Sou um rato que cai na ratoeira
Sou o álcool misturado à besteira
Sou o símbolo da avareza.

Sou um coração que não morre
Sou a lágrima fria que escorre
Sou a dor sedenta de um parto
A frialdade lenta de um quarto

Sou um boêmio sem amplitude
Eu sou a derrota da atitude
Sou a marmota cega na terra
Sou a dúvida que alega e erra.

Não sou nada.
Nada além de um corpo solto
A dor escarrada
Dos vermes que vagam no esgoto.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Aurora Maldita

A aurora me resseca os olhos
Me rói o coração falido
Me põe as mãos no peito, angústia
Ressoa em mim como um rugido.

Quando a noite acaba, é preciso ser forte
Lançar-se à espada, mas fugir da morte
Apagar os cigarros e entregar-se ao sono
Acordar como um rei vomitando no trono.

A aurora, dominadora senhora,
Que usa a embriaguez como chicote
P’ra cortar a carne do escravo que implora
Por mais um cigarro e mais um scotch

Talvez um shot, talvez a vida
Talvez o som de um violão sem cordas
Talvez a minha musa querida
Que vai embora quando o sol me acorda

O sol me irrita, aurora maldita
Que obriga os bêbados a dormitar
Quero fazer dos sonhos a saída
Com corpos nus sem dó quero sonhar.

Maldita aurora, que traz o dia
Que acaba a orgia dos que não têm fé
Maldita aurora, que repudia
Os coquetéis de menta e os canapés

Quero acordar à noite suado
E excitado por um sonho bom
Quero perder o sêmen na cueca,
Beber meu gim e exercer meu dom.

Estou cansado da monotonia
E da rotina que em vão me atrofia
Eu quero a sorte da morte prematura,
Quero a imagem póstuma que perdura.

Misturem minhas cinzas com as de um cigarro
Meu sangue restante num copo de gim
Minha última saliva, a um escarro
Elevem meu falo ao estopim
Usem o que falo, lembrem-se de mim

Não como um monarca que marca o que manda
Mas como o bobo que deixa a emoção
Que a noite venha e seja ciranda
No corpo e na bílis no ralo, no chão.

Níkolas Sansão
Sístole Diástole

Sístole Diástole Sístole Diástole
O mundo corre em volta
O suspiro se solta
Num som já nauseante
Não sou tão importante.

Sístole Diástole Sístole Diástole
Clamam o errado
Condenam o mal-arrumado
Recusam a assistência
Para a sobrevivência

Sístole Diástole Sístole Diástole
Um sentimento acre já me sobe à boca
Acredito nos acréscimos de uma mente louca
E aos poucos, também minha mente enlouquece
Eu não mereço o mundo, ou o mundo não me merece?

Sístole Diástole Sístole Diástole
Espirra o sangue no mangue escuro
Algumas palavras escritas num muro
Com uma enorme fachada de ideologia
Que me vêm a causar até asfixia.

Sístole Diástole Sístole Diástole
Meu coração bate forte e ritmado
Como os tiros de um revólver descontrolado
As pessoas choram inconscientemente
Vivendo suas rotinas intensamente

Sístole Diástole Sístole Diástole
De que vale um deus p’ra essa gente sã?Deus é pr’os ébrios, não p’ra a gente cristã
Que vai ao mercado com dinheiro contado
E transa depois do casamento consumado.

Sístole Diástole Sístole Diástole
Pego mi’a garrafa de um álcool qualquer
Começo a imaginar o corpo de uma mulher
Na tentativa falha de um prazer momentâneo
Ou lúgubre, ou teso ou talvez instantâneo

Sístole Diástole Sístole Diástole
Começo então a rezar para um deus profano
Que muda de endereço de ano em ano
Na loucura da luxúria de um vão momento
Eu começo a idolatrar algum monumento
Sístole Diástole Sístole Diástole
Olho pr’esse povo pueril... e vejo o vazio.
Olho para o sol e vejo o meu ego... Fico cego
Tentando enxergar algo com potencial
Que não me atinge, não me toca... Algo banal.

Sístole Diástole Sístole Diástole
Tento me entender com filosofias baratas
Como o feijão direto das latas
E durmo no chão, só p’ra aumentar a decadência
E grito em vão, p’ra destruir a decência.

Sístole Diástole Sístole Diástole
Nas batidas vãs de um coração flamejante
De um desesperado ao qual não há deus que encante
Vive a loucura, a usura, o desejo de uma figura
Ou de uma loja nova que o demo inaugura.

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
O demônio saltita pelas pedras do inferno
E os humanos têm sentimentos ternos
Que se apagam sempre com uma desilusão
É assim que se mata um bom coração

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
As filosofias são livros de auto-ajuda
Destinados a quem só mesmo Deus que acuda
Começo a ver beleza até nos indecentes
Os tímidos são sempre os mais inteligentes.

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
O povo pueril não presta, resta
O Sol não resvala em mi’a cabeça ou testa
Não bate em meu corpo, não me ilumina
Só ilumina aquelas fúteis meninas

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
Os deuses? Todos são profanos.
Por mais que com seus protetores arcanos
Torno-me ateu, vivo no breu
E a bíblia... Nem mesmo Deus leu.

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
Beber e pensar sim, talvez me ajude
Me leve a uma ilha, um campo ou a um açude
Aonde o absurdo aconteça com as fadas
Aonde divinizem as mulheres safadas.
Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
E assim talvez eu possa um dia pensar em Deus
Sentado em mi’a poltrona, escravizando os seus
Pois Deus sempre foi escravizado pelo homem
Rezam, transam, bebem, fumam e somem.

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
As rotinas das meninas finas e frescas
Com roupas e tapeçarias arabescas
Nada servem, e essas é que vão p’ro céu
De que me adiantaria ser um servo fiel?

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
E as ideologias frias deste povo
Que grita ser possível fazer um mundo novo
Acabar-se-á um dia numa tumba
Como Lênin,que jaz em sua catacumba.

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
Já a loucura, esta me é louvável
Traz-me um sentimento doce e afável
Similar ao gosto ácido do veneno
Até seu custo se torna pequeno.

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
Se essa gente rica de corpo e pobre de cabeça
Encontra no vão algo que prevaleça
Que expurgue a razão, e Deus agradece
Hipocritamente, pois a terra lhes desce.

Sinto-me um idiota aqui Sinto-me um idiota aqui
E o som do burburinho dessa cidade fria
Continua a causar-me eterna arritmia
Até que um dia chega em que me dão a morte
A menor hipocrisia que jaz na minha sorte.

Níkolas Sansão
Começo com uma poesia minha ^^

Estar à beira da morte

Estar à beira da morte...
Clamar a Deus por socorro
Cruzar a linha das vidas
Ser enterrado num morro
Ou ter a vida de Midas

Esta bandeira dá sorte!

Esta é a bandeira da vida
Da força bruta e do ânimo
Da minha vida querida
Que me afasta do pânico.

Esta parreira é tão forte
E embaixo dela eu estou
Cantando a vida em poesia
Catando em pá o que restou
Numa causal sinfonia
Que um dia um anjo tocou.

Esta roseira dá corte

Mas vale a pena ferir
Um dedo meu por amor
E só num grito bramir
A voz de um canto amador
Para uma dama por vir
Com seus vestidos de alvor

Estar à beira da morte

Estar gritando de dor
Ser vitimado de corte
Por uma causa de amor
Na vida, há de ser forte
Pra se vencer a azia
Mas é preciso ter sorte
Pra se vencer na poesia.
E numa estrela do norte
Ter esperança de um dia
Ver uma dama em alvor
Que está a cantar sinfonia.

E então lhe dar uma flor
Que se cultiva em folia
Na colorida roseira
Que os homens chamam de orgia
É necessário ter porte
Para evitar suicídio
Pois não há mais bela morte
Do que aquela que um vídeo
Para um vidente mostrou

Este é o tipo de morte
D’homem que perde o louvor
E que é suficiente forte
Para morrer por amor.

Níkolas Sansão
Bom dia, caros e caras!

Comecei hoje este blog e espero que ele perdure.
Pretendo fazer deste blog um espaço artístico, para postar letras de música, pinturas e principalmente poesias: algumas minhas, algumas de outras pessoas.
Como vêem, esqueci de me apresentar.
Meu nome é Níkolas Sansão, tenho 21 anos e sou um estudante de letras que ama a arte e escreve poesia (como já citei antes, odeio ser redundante ¬¬).
Anyway, espero que gostem e acessem sempre ^^